sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Borboletas no estômago






''Tenho uma parte que acredita em finais felizes, em beijo antes dos créditos, enquanto outra acha que só se ama errado. Tenho uma metade que mente, trai, engana. Outra que só conhece a verdade. Uma parte que precisa de calor, carinho, pés com pés. Outra que sobrevive sozinha, metade auto-suficiente. Mas, há muito, eu erro a mão. A dose. Esqueço a receita do equilíbrio". Caio Fernando Abreu.

Há tempo que borboletas me rondam... Dão voltas e voltas, causam delírios. Mas que ninguém se engane ou deixe-se iludir por suas asas e suas promessas lúdicas porque no fim continuam as mesmas larvas. Larvas conhecidas por seu apetite insaciável. Saiam daqui, já estou farta de ilusões!  Voem para outro lado e deixe o pouco que resta desse coração castigado em paz.
Quando voarem por ai se algum dia pousar no coração de meu amado diga a ele que dele só me restaram as mais doces mentiras. Talvez eu tenha receio, na verdade, temo tudo que ponha em risco meu livre arbítrio. Uma mistura de covardia e egoísmo. Ah como essa covardia me machuca...
Ensaiei por horas palavras, gestos, rompimentos, declarações. Tanto quis falar que nada falei. Aquieta coração que ainda não chegou sua hora. Espere a ventania e os galhos secos se acalmarem que logo depois o sol aparece e tudo se esclarece. 

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Claustrofóbico

"Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento." Clarice Lispector


Meus pêsames, meu amor, seu coração é claustrofóbico. Aceite um conselho amigo, de alguem que te quer tão bem, você atrai o que mais teme.  

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Lembranças em retalhos


"Na infância.. Bastava sol lá fora e o resto se resolvia."- Fabrício Carpinejar




Tarde de verão, o calor lá fora queima. Da janela vejo as folhas das árvores dançarem ao som do vento, em um ritmo lento. Tudo tão quieto que quase consigo ouvir meu coração bater. Tum-tum-tum.
- Vó... - Queria protestar, eu poderia estar correndo atrás dos patinhos ou subindo no pé de jabuticaba. - Porque que eu tenho que dormir?
Protesto mais tímido esse! Ela me olhava com aqueles olhos de índia e me respondia com uma voz autoritária por natureza:
-Faz bem pra digestão. Vira de bruços e dormi.
-Mas eu não estou com sono. - Logo embirrava e fazia cara de choro.
-Fecha os olhos que o sono vem, menina.
E eu fechava, apertava-os, esforçava pra me concentrar. Mas que diabos de sábia que não fica quieto! Como vou conseguir dormir?  Rolava de um lado para o outro na cama. A colcha era de retalhos coloridos, estampados, de veludo, de jeans velho. Quantos retalhos têm aqui? Um, dois, três... Será que mamãe vai demorar? Seis, sete... Oito retalhos... Talvez cem ou infinitos!
O fogão a lenha deve estar acesso porque já sinto cheiro da gula. Doce de figo, doce de mamão, doce de laranja, doce-de-leite. Vó dos doces e dos retalhos. Até consigo imaginar ela com os cabelos negros e escorridos presos em um coque alto, as mãos fortes mexendo nas panelas.
E se eu dormir e não acordar mais? Não quero morrer! Não vou dormir. Fiquei olhando para as paredes de madeira que eram coloridas também. Engraçado. Gosto muito é do verde daquela árvore. Tão calma e indefesa e vem aquele vento empurrar-lhe os galhos! Fechei os olhos. Primeiro ouvi minha respiração e depois o meu coração Tum-tum-tum. Sinal de que ainda estou viva, pensei em alivio. Uma moleza foi tomando conta, acho que era o sono, mas quando acordei mamãe já tinha chegado para me buscar.
Montei na garupa da bicicleta, mamãe já havia começado as pedaladas quando olhei para trás e vi vovó acenando para mim como forma de despedida. Tive a sensação de que era uma das últimas tardes com ela, com um sorriso triste acenei como resposta.  Minha intuição estava certa...


sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Eu+ gosto amargo + você = Matemática





Quando virar para trás prometo que olharei com carinho. De todos seus erros e defeitos gosto mesmo é do pior. Você marinheiro de todos os portos, amante de todas as flores. Lembro-me que já te desejava por de trás dos olhos tímidos, desejei como uma criança deseja um doce. Doce mais amargo, gosto de culpa.
Do pecado o mais doce. Do platônico o mais intenso. Dos delírios de menina á realidade do homem. Paguei pelo o meu pecado com leves e longas prestações de martírio. Não importa, valeu o preço. Valeu mesmo? Não sei mais.
Gosto mesmo é dessa tua barba mal-feita, do teu cheiro que deixa rastros, da tua malícia. Bons tempos foram aqueles. Tempos de não-posso-te-ter. Platonicamente era tudo mais bonito, mais vivo e de cores mais intensas. Restou apenas os dias de cores gastas. Isso nos teus olhos é compaixão? Não, não. Isso eu dispenso e todo o resto. Ah se soubesse como te desejo bem! Bem longe de mim... mas mesmo assim quero-o muito bem.
Andei pensando, tudo se resume em matemática até nosso erro. É simples! Por mais que subtraísse, multiplicasse e anulasse alguns detalhes seu cálculo final ainda não bateria com o meu inicial. Matemática sempre simplificando as coisas!

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Felizes para sempre?





O que vem depois que sobem os créditos? As luzes se acedem e é fim? E só nos resta um desejo de quero-pra-mim . A sala vai se esvaziando, um a um vai acordando do faz de conta, menos eu. Talvez minhas expectativas sejam grandes demais para se guardar no peito. A culpa não é minha, não é sua é tudo culpa de Hollywood.
E esse tal de felizes-para-sempre que nunca chega? Dispenso o cavalo branco, o príncipe e o para-sempre eu só preciso mesmo é dessa parte: felizes. Sabia que não devia ter confiado na Disney. Exijo meu dinheiro de volta!
Não se pode confiar apenas nos olhos, aprendi a lição. Ultimamente prefiro os pés no chão à cabeça ao vento, ao livre á correntes, um abraço sincero á beijos manipuladores. Do que adianta sair às cegas, sem direção? Deixe lá o amor, que um dia ele me procura.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Querer bem


"Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe?" Caio Fernando Abreu



Mas você sabe como as coisas são, quando não cabe mais no coração, transborda nos olhos. O caminho é de terra vermelha, vermelha como esses seus olhos, as árvores são de concreto e a fé cada vez mais escassa.
Quem me dera meu bem, que os tempos fossem outros, que as cores fossem mais intensas. Ah se eu soubesse compor uma música, eu faria. Só pra ter o que cantar nos dias felizes. Como não sei, apenas escrevo no dias tristes.
Tudo bem, você quer caminhar com os próprios os pés? Então vá! Será que estou errada em te querer bem? Mas deixa estar, vou eu te querendo bem, em silêncio. Quase numa prece, aos sussurros para que você não me ouça, quem sabe o vento me escute e me traga sorte. Quem abrirá seus olhos? Mas você só quer andar no escuro por alguns instantes. Cegueira alternativa. Tudo bem vai passar.





quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Cigarro




Um capuccino nas mãos e com um cigarro na outra, ares de boêmios. Eu só observo. Fumante contra vontade, companheira desta tua fumaça. Ai, pobre de meus pulmões. Uma dose de ar puro com gelo, por favor.  
Chuva intensa, esta caindo o mundo lá fora, a luz acabou. Pegue o violão e toque qualquer música. Essas estúpidas músicas de amor me levaram de volta a nós.  Meu bem, algum dia existiu nós ou foi só impressão minha? Sabe, não estava nos meus planos pensar em você. Meus planos nunca dão certo mesmo,devia me acostumar. 
Talvez seja só essa chuva, talvez seja só esse som de violão ou talvez seja tudo. Pequeno fatos contribuem para estar assim como estou. Talvez eu devesse me deitar, esta tarde e já inalei, mesmo sem querer, muita nicotina por um dia. Boa noite meu anjo, aonde quer que você esteja.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Heróis



Glória aos que lutaram!
Não deixe lhes cegar os olhos da justiça.
Honra aos que não se calaram!
Não negue sua raça.

Movimento estudantil
Caras pintadas, gritos em meio a avenidas e ruas
Cuide com carinho de nosso Brasil!
Repressão, chutes e socos a carnes frágeis e nuas.

Minha mãe, minha pátria, meu berço.
Ao som subliminar de Caetano.
Ditadura, força bruta, em meio alvoroço.
Marcaram história naquele ano.

Filhos da mesma nação.
Calam-se agora diante da suposta liberdade?
E o que será dessa nova geração?
Oh que Deus tenha piedade!

Que fim teve os heróis dessa luta?
E tantas famílias que ainda esperam por seus queridos?
Seria cruel dizer que morreram por uma causa justa?
Amigo, aqui lhe digo: Heróis não fogem, não temem, heróis não são reprimidos.




Mulher


Quantos viajantes e náufragos perderam-se em meio a ondas de seus cabelos, nas tempestades de seus olhos, na indiferença de suas palavras. Mulher é tua contradição que fascina. Mulher serena, de sorriso infantil. Mulher de abraços intensos, de beijos d’alma. Mulher de lua. Enigma que se arrasta por séculos. Mulher o que queres, afinal? Espera que eu adivinhes? Pede que te dou, meu bem.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Novembro


                                 " Que seja doce."- Caio Fernando Abreu

Eu gostava especialmente de duas coisas: Você e Novembro. Agora só me resta novembro.E porque não Agosto, Junho ou até mesmo Setembro?  Não sei porque, como ou quando isso começou. Só sei que é assim desde que o mundo é mundo.
Doce novembro. É salvar ou destruir. De que valia mentir? Talvez tenha sido um erro. Mas agora não importa, não é mesmo? Eu precisava seguir.
Mas sabe como é a vida, é como saltar de um trem em alta velocidade. Você vai se machucar e sempre terá cicatrizes para se lembrar pelo resto de sua vida. Essa é a verdade. Mas você nunca esquecera da sensação minutos antes de cair.
Ainda carrego as cicatrizes que Novembro me deixou. Mas o mês voltou, ou, melhor começou. O dias escassos, cada vez mais rápidos... 
Vista seu jeans velho, pegue uma garrafa de vodca, se assim quiser, porque vem Novembro te marcar.

sábado, 30 de outubro de 2010

Borboleta

Vem pequena borboleta!
Pouse aqui em meu ombro e me traga sorte.
Você que tanto conhece essas estradas, sigo eu para direita?
Indique-me um caminho, talvez o norte.

Sul, sudeste, para o leste!
Se meu tempo aqui é curto, o seu é breve.
Isso tudo não passa de um teste.
Já vai? Como se atreve?

Esta bem, vá que a chuva já chega!
E aonde se abriga quando a água começa a cair?
Morres então? Sobrevive? Espero que consiga.
Logo, logo o sol novamente vai surgir.

domingo, 24 de outubro de 2010

Canto!

Você me pede para que eu cante. Eu canto. 
Um sopro de voz aos poucos vai ganhando ritmo.
E nada perde o encanto.
Meu som se mistura ao seu riso rouco, que tanto estimo.


E tudo se transforma!
O dia em noite e a noite em dia.
Só percebe quem ama.
O barulho em melodia e as conversas vagas em poesia.

sábado, 23 de outubro de 2010

Papéis ao chão (Parte III )

"Você quer pular?''. Apenas essas três palavras ecoavam em minha cabeça, que nesse momento rodava, perdia-se me meio ao meu caos. João, você quer pular? Não encontrei a resposta.
-Você já sentiu medo? – Minha voz saiu tremula, mergulhada em dor.
-Claro. Todos nós temos medo de alguma coisa. É natural...
-É natural... - Debochei de suas ultimas palavras. – Tudo é tão sujo! Tão hipócrita! Nada tenho aqui... Só dor.
Preparei-me para subir no parapeito. Senti sua mão se entrelaçar a minha, seus olhos vagaram rapidamente de meus olhos para o céu, só então percebi que já havia anoitecido.
-Você já olhou para o céu?
- O quê que tem? O céu é o mesmo de todos os dias, tão sozinho e obscuro quanto eu...
- Quem disse que ele esta sozinho? Olhe as estrelas lá fazendo companhia para ele! – Apontava para os pequenos diamantes cravejados no escuro lá de cima. Uma brisa fria bateu contra seus cabelos ruivos, empurrando os para trás.  Ah Felipa não vê a gravidade da situação?
-Pelo menos ele tem companhia... E quanto a mim?
-Se você não percebeu, eu sou tipo uma companhia... - Além de aspirante a comediante frustrada e meiga, ela era também sarcástica.
-Você não é uma das melhores, mas ta servindo... - Zombei dela.
-Uau! Isso doeu... – O som de seu riso ecoava entre sons do mundo lá embaixo.
 - Porque você esta aqui?
-Não sei... Só sei que eu precisava estar aqui. E aqui estou. Não posso ir embora agora, já me envolvi nesse enredo.  E se a noite chegou, assim, toda bonita... Não posso fazer essa desfeita com ela, temos que admira-la... -Ela tinha um sotaque engraçado, uma preguiça nas palavras que era gracioso de se ouvir.
Olhei para o céu. Olhei para o brilho da cidade. Faróis, outdoors, prédios, os carros lá em baixo.  Olhei para ela, que continuava a olhar as estrelas. Ficamos ambos ali de mãos entrelaçadas olhando para o céu. E assim a noite passou, ficamos na sacada de um pequeno e imundo apartamento da Rua Augusta.

(Continua...)

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Papéis ao chão. (Parte II)

Ah como era terrivelmente angelical, tinha uma malícia pura! Era fascinante como a sua contradição de personalidade roubava a cena, me fazendo um simples espectador. Não era justo! O que eu poderia fazer já havia sido imobilizado pelos seus olhares tímidos. Ah menina quem és tu?
-Acho... Você tem sorte. E eu que sou tão comum! Passo despercebido, nada que chame a atenção! – Por um momento pensei ter visto a compaixão lhe correr os olhos. – João! – Debochei de meu próprio nome. Desculpe mãe, mas você não fez uma das melhores escolhas para mim.
-João de que?
-Só João. Parece que minha mãe quis economizar nos nomes... Se ainda fosse João Pedro! Mas só João?- Percebi que estava sentado no parapeito remoendo uma coisa tão superficial.
-O diabo para esses nomes compostos! – Como uma coisinha tão meiga pode ter palavreados tão fortes? Achei graça. Até aos palavrões ela tinha seu encanto.
-Foda-se os nomes compostos!
Rimos juntos. Meu riso foi se afogando em uma angustia crescente. Um nó se instalou em minha garganta forçando as lágrimas saírem, tratei de expulsa-las de meu rosto.
-Você acha que alguém vai sentir minha falta?
-Provavelmente sua mãe...
-Ela não conta, ela tem obrigação de sentir minha falta! Eu falo de outro alguém, do passado, algum amigo esquecido...
-Eu sentirei... Lembrarei de você. - Disse em uma voz suave, seguido de um suspiro longo.
Bastaram apenas cinco palavras para me desconcertar, cinco segundos foi o tempo que meu fôlego parou. Não me iluda, guria! Isso foi perverso e ao mesmo tempo reconfortante.
-Como?- Perguntei na esperança de ter entendido direito.
-Não é todo dia que se encontra um pré-suicida com ares de roteirista querendo beijar a morte!- Riu baixinho.
-Devo pular agora?- Olhei para baixo, comecei a sentir as minhas mãos suarem.
-Diga-me você. Você é o roteirista aqui. Você quer pular?
Voltamos ao silêncio.

(Continua...)

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Pedras

Tudo se complica. Pedras e mais pedras espalhadas pelo caminho. Cadê a harmonia quando se precisa dela? Ainda não a vi passar por aqui, não senhor(a). Nem sei como é seu cheiro, sua cara, seus benefícios. Mas é nessa imperfeição de detalhes que me encontro. Sobrevivo de erros e tropeços.                                          
A complicação somos nós? Começo a crer que sim. É a covardia que nos impossibilita de seguir a diante. Um dia me livro dessas pedras e a o destino sorrirá para mim. Chame-me de ingênua, como quiser! Sou fiel ao ditado que diz: "A esperança é a última que morre". No meu caso ela não morre, ela é eterna! Talvez esse seja o meu mal. Será que me engano? Quero crer que não. Um brinde ao velho clichê dos ingênuos: "Tudo vai ficar bem!"

domingo, 10 de outubro de 2010

Papéis ao chão. (Parte I )

Papéis ao chão. O sol ia se escondendo, a brisa batia contra meus cabelos desgrenhados. Quem se importa com aparências em um momento como esse? Olhos melancólicos, carregados de uma profunda frustração. De hoje não passava! Iria abraçar a morte, ela não iria fugir mais.
Entregar-me a paz eterna, livrar de meus conflitos internos e de toda aquela sujeira que a sociedade impõem. Sem medo, sem dor, fim das lágrimas. Olhei pela última vez o pôr-do-sol. Ah disso sim sentirei falta! Subi no parapeito, fechei os olhos. Desculpa mãe. Quando ouvi  passos tímidos se aproximarem, fui nocauteado por um aroma doce. Engraçado, fazia-me lembrar da primavera. Tão doce!
-Eu sei porque você veio... Não adianta tentar me convencer com qualquer filosofia barata!
-Eu não vou...- Uma moça pequena se aproximava de mim.
-Não vai?
-Não.- Suspirou.
-Vai ficar aí me vendo pular?
-De camarote. Eu gosto de espetáculos. - A tranqüilidade em sua voz fazia-me estremecer. Mas quem era essa guria?
Silêncio.
-Posso ler? - Disse ela olhando para os papéis espalhados ao chão.
-Já que é minha unica platéia... Nada mais justo saber do enredo.
-Caramba! Isso era pra ser uma carta de suicídio? Esta mais para um livro!
- É o ápice da minha história, precisei ser detalhista...- Equilibrando-me  sobre o parapeito como se fosse eu fosse um artista de circo.- Quem é você guria? Como entrou aqui?
-Ninguém... 
-Isso é para ser trágico! O público não pode interagir com o protagonista.
-Eu sou a platéia traço coadjuvante. Mil e uma utilidades, ao seu dispor!- Reverenciou-me. Era tão divertida que faria qualquer um perder a linha do raciocínio, ou melhor, insanidade.
-Vá! Que eu tenho um encontro...
-Um encontro? - Seu rosto contorceu-se em curiosidade.
-Com a morte... Vá embora que já estou atrasado a 26 anos... 
Silêncio. Ficamos nos observando. Eu em seus olhos e elas em meus olhos suicidas.
- Chamo-me Felipa.- Estendeu a mão para me cumprimentar
-Felipa...- Murmurei para mim mesmo- Nunca tinha ouvido esse nome...
-Isso é bom. Significa que sou unica! Não acha?- Olhou-me com aqueles imensos olhos castanhos, quase a devorar-me. 
(Continua...)

sábado, 9 de outubro de 2010

Silêncio

Por favor, apague a luz, meu anjo. Que o sono vem se encarregando de reprimir nosso desconforto. O que é isso que esta ao meu lado? Não a reconheço mais. Um corpo sem alma. Ou será que a esconde de mim?
Aos poucos, sem perceber, fomos nos distanciando e tudo foi se resumindo em conversas banais e cotidianas. Pequenas frases para preencher o silêncio.
Não há mais palavras, só o silêncio. Choro sem fazer alarme, minhas lagrimas não são o um circo. Ah esse meu orgulho! Bastam três palavras de sua boca: Você esta bem?
Amor? É só um disfarce para seu egoísmo. Tenta me convencer com essa suposta proteção que me oferece. Não, meu bem, a vida é feita de risco. Sofrer faz parte desse processo que se chama: vida.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Palavras


Palavras sinceras, dissimuladas.
Que dançam em minha cabeça, sem sincronia, que tiram minha paz.
Frases soltas, conversas cansadas.
Chuvas e pensamentos que não quero mais.

Venha antes que a moça aqui lhe esqueça.
Palavras que fazem cócegas em minha boca, palavras que não se expressão.
Venha e tome o seu lugar mesmo que você não mereça.
E me faça rir a cada estação.

Aos sussurros vem às palavras me iludir
De mansinho, sem fazer alarme
Antes que a noite tente fugir
Lá vem o malandro fazendo seu charme.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

São Paulo

Fumaça de cigarro alheio intoxicando meus pulmões. O céu cinzento desanima, e esse vento gelado que briga contra meu corpo? Frio. Estranhos a minha volta, histórias desconhecidas, rostos diferentes. Vozes incomodadas com o silêncio constrangedor, falam de qualquer assunto. Não me importa, só quero que essa fila ande logo.
Engraçado que em uma fila há sempre aquele que fala mais do que a boca, há a pessoa que reclama do atendimento e a anti-social que esboça no máximo sorriso sem graças ( que no caso sou eu). Será que chove? Aqui chove o ano todo! Esse sotaque malandro, preguiçoso nas palavras, é quase impossível ignorar. Observo as gírias, o modo como o corpo se impõem em meio a discussão de coisas banais.
Ah mas não há como ignorar essa cidade, ela invade seus pulmões, seus nervos. Ah São Paulo!

domingo, 3 de outubro de 2010

Just feel

O lápis e o papel foram deixados de lado, trocados pelo teclado e por um programa de computador. Não importa onde, quando ou como, basta escrever com a alma. Deixe que as palavras saiam, liberte-as , antes que elas te sufoquem.
Para escrever basta sentir, você é capaz de sentir?  Você é capaz de enxergar suas próprias rachaduras? Verás que és tão complexo e profundo quanto uma noite de tempestade. Mas essa tempestade passa, a chuva fina vem acalmando as feridas e um dia o sol sorrirá pra você.
Só lhe peço a sinceridade. Deixe-me ver como tu és,  que eu possa ver o sorriso melancólico que há de tras dessa mascara imposta pela sociedade. Tome as palavras como tua amante, sua confidente. Guardarei com carinho cada vírgula, cada erro ortográfico, cada frase boba que vier de você.
Apenas sinta, caro leitor (a).

Pequeno

Deites em meu colo
Conte-me suas peraltices, suas descobertas.
Deixes que o sono venha
Que eu, meu pequeno, te embalo.

A cada aurora seu riso frouxo preenchia meu vazio
Bom dia, meu pequeno!
Corres para meus braços, aconchegue-se.
Que te aqueço nesse frio.

Descobridor de tesouros. Meu pequeno pirata!
Foges da realidade
Viajante das galáxias. Meu pequeno astronauta!
Vivendo em uma eterna utopia em meio ao caos dessa cidade.

Ontem mesmo engatinhavas
Não vá, não cresça!
Ainda lembro-me do pequeno que se escondia entre as cobertas com medo do trovão.
Minha eterna criança...

Cadê o meu guri?
A sociedade o corrompeu, cegou-o.
Cadê o meu guri?
A ambição dominou-o.

Se tiver medo, se a insegurança vier lhe incomodar.
Feche os olhos e segure minha mão.
Eu te guiarei até o pesadelo acabar.
Eu serei sua bússola, porque tu, meu pequeno, és minha razão.





Sala Pequena

A sala era desproporcional para a quantidade de pessoas que lá havia. É engraçado como os minutos se arrastam quando estamos ao lado de estranhos. Um silêncio incomodo. A fadiga de anos agora pesava sobre seus ossos, olhos cansados como se tivesse visto de tudo e se decepcionado com que virá. Ele observava a face de uma jovem que estava no fundo  sala, fazia cócegas em suas memórias, trazia de volta em sua mente o gosto de sua juventude.
Ela devolveu-lhe o olhar, se encararam por longos segundos, o rosto da menina era de angustia, o senhor queria confortá-la de um jeito paternal, mas se sentiu imobilizado quando viu escorrer-lhe uma lagrima.
Pobre menina pensou ele. Pobre velhinho pensou ela. Ele desejando a aurora de sua vida de volta, e ela ansiava pela maioridade e liberdade, mas temia o amanhã.
A moça viu aquele senhor se levantar e seguir em sua direção. O senhor pousou ternamente a mão direita sobre o ombro da jovem e disse com sua voz fraca.
“Tu tens muito que viver ainda, não temas o futuro, se o teme ele se tornara seu inimigo. Mas não seja imprudente menina”.