sábado, 30 de outubro de 2010

Borboleta

Vem pequena borboleta!
Pouse aqui em meu ombro e me traga sorte.
Você que tanto conhece essas estradas, sigo eu para direita?
Indique-me um caminho, talvez o norte.

Sul, sudeste, para o leste!
Se meu tempo aqui é curto, o seu é breve.
Isso tudo não passa de um teste.
Já vai? Como se atreve?

Esta bem, vá que a chuva já chega!
E aonde se abriga quando a água começa a cair?
Morres então? Sobrevive? Espero que consiga.
Logo, logo o sol novamente vai surgir.

domingo, 24 de outubro de 2010

Canto!

Você me pede para que eu cante. Eu canto. 
Um sopro de voz aos poucos vai ganhando ritmo.
E nada perde o encanto.
Meu som se mistura ao seu riso rouco, que tanto estimo.


E tudo se transforma!
O dia em noite e a noite em dia.
Só percebe quem ama.
O barulho em melodia e as conversas vagas em poesia.

sábado, 23 de outubro de 2010

Papéis ao chão (Parte III )

"Você quer pular?''. Apenas essas três palavras ecoavam em minha cabeça, que nesse momento rodava, perdia-se me meio ao meu caos. João, você quer pular? Não encontrei a resposta.
-Você já sentiu medo? – Minha voz saiu tremula, mergulhada em dor.
-Claro. Todos nós temos medo de alguma coisa. É natural...
-É natural... - Debochei de suas ultimas palavras. – Tudo é tão sujo! Tão hipócrita! Nada tenho aqui... Só dor.
Preparei-me para subir no parapeito. Senti sua mão se entrelaçar a minha, seus olhos vagaram rapidamente de meus olhos para o céu, só então percebi que já havia anoitecido.
-Você já olhou para o céu?
- O quê que tem? O céu é o mesmo de todos os dias, tão sozinho e obscuro quanto eu...
- Quem disse que ele esta sozinho? Olhe as estrelas lá fazendo companhia para ele! – Apontava para os pequenos diamantes cravejados no escuro lá de cima. Uma brisa fria bateu contra seus cabelos ruivos, empurrando os para trás.  Ah Felipa não vê a gravidade da situação?
-Pelo menos ele tem companhia... E quanto a mim?
-Se você não percebeu, eu sou tipo uma companhia... - Além de aspirante a comediante frustrada e meiga, ela era também sarcástica.
-Você não é uma das melhores, mas ta servindo... - Zombei dela.
-Uau! Isso doeu... – O som de seu riso ecoava entre sons do mundo lá embaixo.
 - Porque você esta aqui?
-Não sei... Só sei que eu precisava estar aqui. E aqui estou. Não posso ir embora agora, já me envolvi nesse enredo.  E se a noite chegou, assim, toda bonita... Não posso fazer essa desfeita com ela, temos que admira-la... -Ela tinha um sotaque engraçado, uma preguiça nas palavras que era gracioso de se ouvir.
Olhei para o céu. Olhei para o brilho da cidade. Faróis, outdoors, prédios, os carros lá em baixo.  Olhei para ela, que continuava a olhar as estrelas. Ficamos ambos ali de mãos entrelaçadas olhando para o céu. E assim a noite passou, ficamos na sacada de um pequeno e imundo apartamento da Rua Augusta.

(Continua...)

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Papéis ao chão. (Parte II)

Ah como era terrivelmente angelical, tinha uma malícia pura! Era fascinante como a sua contradição de personalidade roubava a cena, me fazendo um simples espectador. Não era justo! O que eu poderia fazer já havia sido imobilizado pelos seus olhares tímidos. Ah menina quem és tu?
-Acho... Você tem sorte. E eu que sou tão comum! Passo despercebido, nada que chame a atenção! – Por um momento pensei ter visto a compaixão lhe correr os olhos. – João! – Debochei de meu próprio nome. Desculpe mãe, mas você não fez uma das melhores escolhas para mim.
-João de que?
-Só João. Parece que minha mãe quis economizar nos nomes... Se ainda fosse João Pedro! Mas só João?- Percebi que estava sentado no parapeito remoendo uma coisa tão superficial.
-O diabo para esses nomes compostos! – Como uma coisinha tão meiga pode ter palavreados tão fortes? Achei graça. Até aos palavrões ela tinha seu encanto.
-Foda-se os nomes compostos!
Rimos juntos. Meu riso foi se afogando em uma angustia crescente. Um nó se instalou em minha garganta forçando as lágrimas saírem, tratei de expulsa-las de meu rosto.
-Você acha que alguém vai sentir minha falta?
-Provavelmente sua mãe...
-Ela não conta, ela tem obrigação de sentir minha falta! Eu falo de outro alguém, do passado, algum amigo esquecido...
-Eu sentirei... Lembrarei de você. - Disse em uma voz suave, seguido de um suspiro longo.
Bastaram apenas cinco palavras para me desconcertar, cinco segundos foi o tempo que meu fôlego parou. Não me iluda, guria! Isso foi perverso e ao mesmo tempo reconfortante.
-Como?- Perguntei na esperança de ter entendido direito.
-Não é todo dia que se encontra um pré-suicida com ares de roteirista querendo beijar a morte!- Riu baixinho.
-Devo pular agora?- Olhei para baixo, comecei a sentir as minhas mãos suarem.
-Diga-me você. Você é o roteirista aqui. Você quer pular?
Voltamos ao silêncio.

(Continua...)

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Pedras

Tudo se complica. Pedras e mais pedras espalhadas pelo caminho. Cadê a harmonia quando se precisa dela? Ainda não a vi passar por aqui, não senhor(a). Nem sei como é seu cheiro, sua cara, seus benefícios. Mas é nessa imperfeição de detalhes que me encontro. Sobrevivo de erros e tropeços.                                          
A complicação somos nós? Começo a crer que sim. É a covardia que nos impossibilita de seguir a diante. Um dia me livro dessas pedras e a o destino sorrirá para mim. Chame-me de ingênua, como quiser! Sou fiel ao ditado que diz: "A esperança é a última que morre". No meu caso ela não morre, ela é eterna! Talvez esse seja o meu mal. Será que me engano? Quero crer que não. Um brinde ao velho clichê dos ingênuos: "Tudo vai ficar bem!"

domingo, 10 de outubro de 2010

Papéis ao chão. (Parte I )

Papéis ao chão. O sol ia se escondendo, a brisa batia contra meus cabelos desgrenhados. Quem se importa com aparências em um momento como esse? Olhos melancólicos, carregados de uma profunda frustração. De hoje não passava! Iria abraçar a morte, ela não iria fugir mais.
Entregar-me a paz eterna, livrar de meus conflitos internos e de toda aquela sujeira que a sociedade impõem. Sem medo, sem dor, fim das lágrimas. Olhei pela última vez o pôr-do-sol. Ah disso sim sentirei falta! Subi no parapeito, fechei os olhos. Desculpa mãe. Quando ouvi  passos tímidos se aproximarem, fui nocauteado por um aroma doce. Engraçado, fazia-me lembrar da primavera. Tão doce!
-Eu sei porque você veio... Não adianta tentar me convencer com qualquer filosofia barata!
-Eu não vou...- Uma moça pequena se aproximava de mim.
-Não vai?
-Não.- Suspirou.
-Vai ficar aí me vendo pular?
-De camarote. Eu gosto de espetáculos. - A tranqüilidade em sua voz fazia-me estremecer. Mas quem era essa guria?
Silêncio.
-Posso ler? - Disse ela olhando para os papéis espalhados ao chão.
-Já que é minha unica platéia... Nada mais justo saber do enredo.
-Caramba! Isso era pra ser uma carta de suicídio? Esta mais para um livro!
- É o ápice da minha história, precisei ser detalhista...- Equilibrando-me  sobre o parapeito como se fosse eu fosse um artista de circo.- Quem é você guria? Como entrou aqui?
-Ninguém... 
-Isso é para ser trágico! O público não pode interagir com o protagonista.
-Eu sou a platéia traço coadjuvante. Mil e uma utilidades, ao seu dispor!- Reverenciou-me. Era tão divertida que faria qualquer um perder a linha do raciocínio, ou melhor, insanidade.
-Vá! Que eu tenho um encontro...
-Um encontro? - Seu rosto contorceu-se em curiosidade.
-Com a morte... Vá embora que já estou atrasado a 26 anos... 
Silêncio. Ficamos nos observando. Eu em seus olhos e elas em meus olhos suicidas.
- Chamo-me Felipa.- Estendeu a mão para me cumprimentar
-Felipa...- Murmurei para mim mesmo- Nunca tinha ouvido esse nome...
-Isso é bom. Significa que sou unica! Não acha?- Olhou-me com aqueles imensos olhos castanhos, quase a devorar-me. 
(Continua...)

sábado, 9 de outubro de 2010

Silêncio

Por favor, apague a luz, meu anjo. Que o sono vem se encarregando de reprimir nosso desconforto. O que é isso que esta ao meu lado? Não a reconheço mais. Um corpo sem alma. Ou será que a esconde de mim?
Aos poucos, sem perceber, fomos nos distanciando e tudo foi se resumindo em conversas banais e cotidianas. Pequenas frases para preencher o silêncio.
Não há mais palavras, só o silêncio. Choro sem fazer alarme, minhas lagrimas não são o um circo. Ah esse meu orgulho! Bastam três palavras de sua boca: Você esta bem?
Amor? É só um disfarce para seu egoísmo. Tenta me convencer com essa suposta proteção que me oferece. Não, meu bem, a vida é feita de risco. Sofrer faz parte desse processo que se chama: vida.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Palavras


Palavras sinceras, dissimuladas.
Que dançam em minha cabeça, sem sincronia, que tiram minha paz.
Frases soltas, conversas cansadas.
Chuvas e pensamentos que não quero mais.

Venha antes que a moça aqui lhe esqueça.
Palavras que fazem cócegas em minha boca, palavras que não se expressão.
Venha e tome o seu lugar mesmo que você não mereça.
E me faça rir a cada estação.

Aos sussurros vem às palavras me iludir
De mansinho, sem fazer alarme
Antes que a noite tente fugir
Lá vem o malandro fazendo seu charme.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

São Paulo

Fumaça de cigarro alheio intoxicando meus pulmões. O céu cinzento desanima, e esse vento gelado que briga contra meu corpo? Frio. Estranhos a minha volta, histórias desconhecidas, rostos diferentes. Vozes incomodadas com o silêncio constrangedor, falam de qualquer assunto. Não me importa, só quero que essa fila ande logo.
Engraçado que em uma fila há sempre aquele que fala mais do que a boca, há a pessoa que reclama do atendimento e a anti-social que esboça no máximo sorriso sem graças ( que no caso sou eu). Será que chove? Aqui chove o ano todo! Esse sotaque malandro, preguiçoso nas palavras, é quase impossível ignorar. Observo as gírias, o modo como o corpo se impõem em meio a discussão de coisas banais.
Ah mas não há como ignorar essa cidade, ela invade seus pulmões, seus nervos. Ah São Paulo!

domingo, 3 de outubro de 2010

Just feel

O lápis e o papel foram deixados de lado, trocados pelo teclado e por um programa de computador. Não importa onde, quando ou como, basta escrever com a alma. Deixe que as palavras saiam, liberte-as , antes que elas te sufoquem.
Para escrever basta sentir, você é capaz de sentir?  Você é capaz de enxergar suas próprias rachaduras? Verás que és tão complexo e profundo quanto uma noite de tempestade. Mas essa tempestade passa, a chuva fina vem acalmando as feridas e um dia o sol sorrirá pra você.
Só lhe peço a sinceridade. Deixe-me ver como tu és,  que eu possa ver o sorriso melancólico que há de tras dessa mascara imposta pela sociedade. Tome as palavras como tua amante, sua confidente. Guardarei com carinho cada vírgula, cada erro ortográfico, cada frase boba que vier de você.
Apenas sinta, caro leitor (a).

Pequeno

Deites em meu colo
Conte-me suas peraltices, suas descobertas.
Deixes que o sono venha
Que eu, meu pequeno, te embalo.

A cada aurora seu riso frouxo preenchia meu vazio
Bom dia, meu pequeno!
Corres para meus braços, aconchegue-se.
Que te aqueço nesse frio.

Descobridor de tesouros. Meu pequeno pirata!
Foges da realidade
Viajante das galáxias. Meu pequeno astronauta!
Vivendo em uma eterna utopia em meio ao caos dessa cidade.

Ontem mesmo engatinhavas
Não vá, não cresça!
Ainda lembro-me do pequeno que se escondia entre as cobertas com medo do trovão.
Minha eterna criança...

Cadê o meu guri?
A sociedade o corrompeu, cegou-o.
Cadê o meu guri?
A ambição dominou-o.

Se tiver medo, se a insegurança vier lhe incomodar.
Feche os olhos e segure minha mão.
Eu te guiarei até o pesadelo acabar.
Eu serei sua bússola, porque tu, meu pequeno, és minha razão.





Sala Pequena

A sala era desproporcional para a quantidade de pessoas que lá havia. É engraçado como os minutos se arrastam quando estamos ao lado de estranhos. Um silêncio incomodo. A fadiga de anos agora pesava sobre seus ossos, olhos cansados como se tivesse visto de tudo e se decepcionado com que virá. Ele observava a face de uma jovem que estava no fundo  sala, fazia cócegas em suas memórias, trazia de volta em sua mente o gosto de sua juventude.
Ela devolveu-lhe o olhar, se encararam por longos segundos, o rosto da menina era de angustia, o senhor queria confortá-la de um jeito paternal, mas se sentiu imobilizado quando viu escorrer-lhe uma lagrima.
Pobre menina pensou ele. Pobre velhinho pensou ela. Ele desejando a aurora de sua vida de volta, e ela ansiava pela maioridade e liberdade, mas temia o amanhã.
A moça viu aquele senhor se levantar e seguir em sua direção. O senhor pousou ternamente a mão direita sobre o ombro da jovem e disse com sua voz fraca.
“Tu tens muito que viver ainda, não temas o futuro, se o teme ele se tornara seu inimigo. Mas não seja imprudente menina”.